Isolamento social e uso da internet são fatores que preocupam ativistas contra a pedofilia

Em Casimiro de Abreu movimento contra pedofilia visa conscientizar a população

Por RJNEWS em 18/05/2021 às 13:09:00
 Em Rio das Ostras, a população tem à disposição canais de comunicação de denúncia sobre pedofilia

Em Rio das Ostras, a população tem à disposição canais de comunicação de denúncia sobre pedofilia

Em Casimiro de Abreu movimento contra pedofilia visa conscientizar a população

Thaiany Pieroni

Há mais de um ano, crianças e jovens estão vivendo em isolamento social por conta da pandemia do coronavírus. E esse cenário é considerado, extremamente perigoso, por dois motivos: o primeiro é que a criança ou jovem abusado perdeu o contato com pessoas de fora do seu convívio e infelizmente, a maioria das vezes, o abuso ocorre dentro de casa. O outro é que um outro tipo de abuso, que vem fazendo parte das estáticas, ocorre pela internet, e esses jovens e crianças estão ainda mais conectados, durante a pandemia.

De acordo com o Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos - MMFDH, no início da pandemia da Covid-19, em março de 2020, quando ainda não haviam sido decretadas medidas rígidas, houve aumento de 45% de abusos sexuais contra crianças e adolescentes no Brasil em relação a 2019, quando 11.241 denúncias foram registradas pelo governo federal. No ano passado, o total subiu para 20.771. Em abril de 2020, com as salas de aulas fechadas e o ensino remoto, os números caíram. No total, cerca de 19.663 registros desta violência foram efetuados. Os dados não mostram diminuição da violência, e sim o aumento da subnotificação.

As denúncias se tornaram mais difíceis, já que segundo o levantamento da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos - ONDH, pelo menos 75,9% dos casos de abuso contra crianças e adolescentes, ocorrem dentro das suas casas e 40% dos agressores são seus próprios pais ou padrastos.

Cíntia Santos, Presidente do Movimento Todos Contra a Pedofilia em Casimiro de Abreu, ressalta a sua preocupação com esse cenário. "A situação é bem preocupante. Porque quando temos acesso às denúncias, de certa forma, fica mais fácil conseguir atuar. Nós recebemos uma denúncia, recentemente, de uma menina que era abusada pela mãe e o pai, não só sabia dos abusos, como agredia o filho mais velho, de 12 anos, para não contar o que acontecia. Situações como essa acontecem e são difíceis. E infelizmente, com a pandemia casos e mais casos como esse estão ocorrendo e nós não temos acesso porque as denúncias não são feitas, justamente porque a criança está em isolamento", lamentou Cíntia ao relatar sua preocupação com os dados, que serão registrados pós pandemia.

Outra grande preocupação é com relação aos crimes, que estão acontecendo na internet. "Hoje, estamos recebendo muitas denúncias de casos relacionados à internet. Adultos estão usando os mais variados tipos de aplicativos, principalmente de vídeos, para aliciar as crianças. Tem casos de crianças, que desaparecem porque marcam encontro com abusadores pelas redes sociais", ressaltou.

Cíntia lembrou ainda de registros de abusadores, trocando informações na dark web e de casos estarrecedores, que parecem irreais. "Falar de pedofilia era algo muito difícil, ainda é nos dias de hoje, mas estamos trabalhando para mudar isso. Toda vez que terminamos nossas palestras, tem crianças que nos procuram para falar sobre o que estão passando. Temos casos de adultos, que sofreram abuso quando eram crianças e que ainda hoje, sofrem os traumas. Eu sou um exemplo, na minha infância, eu sofri um caso de abuso, que chocou todo o bairro. Na época, em professor Souza, todo mundo ficou sabendo e sofri muitos traumas. Não conseguia ir para a escola, me tornei uma criança retraída e por muitos anos foi muito difícil", ressaltou.

Em Rio das Ostras, o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente - CMDCA, também está realizando uma campanha de conscientização junto à população. Adriana Barbosa da Silva, representante do CMDCA, explica que o medo é o principal problema."As pessoas ainda têm medo de denunciar e esse medo delas é que está atrasando a vida de muita gente, e está fazendo nós perdermos muitas crianças, muitos adolescente. A mensagem que deixamos aqui é que as pessoas denunciem", alertou, lembrando que em Rio das Ostras, as denúncias podem ser feitas pelo telefone do Conselho Tutelar (22) 2760 7384 e (22) 99969 4785, pelo CEAM nos telefones (22) 2771 3125, na Patrulha Maria da Penha (22) 2771 5000 e 0800 0226301.

.Adriana ressaltou ainda que a nova direção do conselho assumiu recentemente e planeja buscar ações afim de melhorar o cenário. "Neste dia 18 de maio, lançamos a campanha, mas queremos falar sobre o assunto o ano inteiro. Assumimos há dois meses o conselho de Rio das Ostras e estamos buscando integrar os órgãos para organizar as estatísticas, para iniciar um processo de conscientização e trazer a população para falar sobre o assunto. Infelizmente, os números aumentaram na pandemia e precisamos tomar providências com relação a isso", alertou.

Psicóloga alerta sobre possíveis sinais de abuso em crianças e jovens

A psicóloga Katheleen Amorim, ressalta que Prado dizia que 'os sintomas atingem todas as esferas de atividades, podendo ser simbolicamente a concretização, ao nível do corpo e do comportamento, daquilo que a criança ou o adolescente sofreu. Ao passar por uma experiência de violação do seu próprio corpo, elas reagem de forma somática, independente de sua idade, uma vez que sensações novas foram despertadas e não puderam ser integradas'.

"Os sinais aparecem quando uma criança não quer participar de alguma atividade que antes participava, se nega a ir com determinada pessoa, irritabilidade, agressividade, introspecção, choro, alteração do sono e pesadelos", exemplificou.

Ainda segundo a especialista, é importante que os pais tenham um diálogo aberto com seus filhos. "A criança é facilmente manipulada por um adulto, e devido isso, é importante manter esse dialogo e ensinar como se expressar, como reagir diante algumas situações e como lidar com suas emoções. Os pais devem manter um dialogo com a criança/ adolescente, pois nesses diálogos, pode aparecer algo novo. É importante nesse momento ensinar a diferença entre segredos e surpresas, ensinar a dizer não e falar quando algo lhe incomodar, falar sobre limites, e ensinar as partes do corpo", ressaltou.

Katheleen lembrou ainda que existem muitos livros, que podem ajudar nesse processo. "Livros como Pipo e Fifi, de Caroline Arcari, para crianças a partir de 3 anos, que trabalha o conceito de corpo e troca afetiva, e A Mão Boa e a Mão Boba, de Renata Enrich, que fala da prevenção ao abuso, são algumas opções", destacou.

Movimento Todos Contra a Pedofilia atua em Casimiro de Abreu

Em Casimiro de Abreu, o Movimento Todos Contra a Pedofilia realizará, no próximo fim de semana, duas ações de panfletagem com o intuito de conscientizar a população sobre a importância de combater o abuso sexual contra crianças e adolescentes.

De acordo com o movimento, no dia 21, a panfletagem acontece às 14h30, no Centro da cidade e contará com a presença do deputado Professor Joziel, Presidente da Frente Parlamentar Mista de Enfrentamento à Pedofilia. Já no sábado, 22, a ação será realizada no mesmo horário, desta vez, no Centro de Barra de São João.

"Devido à pandemia do coronavírus, as nossas ações estão um pouco limitadas. Até o final do ano, estamos planejando duas ações de grande visibilidade para o tempo. Uma delas é o Fórum de Debate sobre o tema Abuso e Exploração Infantil e também a exposição "A culpa não é da vítima", estamos na expectativa que o cenário melhore para que possamos definir as datas", adiantou Cíntia Santos, Presidente do Movimento Todos contra a Pedofilia em Casimiro de Abreu.

Mas, além das ações pontuais, o movimento tem um papel ainda maior dentro da sociedade casimirense."O movimento todos contra a pedofilia foi criado em 2008, a partir da CPI da Pedofilia, com o ex-senador Magno Malta e o Promotor de Justiça, Carlos Fortes, que foi o criador do Movimento Todos contra a Pedofilia, em Divinópolis, Minas Gerais. O movimento entende que a demanda de casos é muito grande e o silêncio que pairava a respeito desse assunto precisava ser abordado com mais clareza pela sociedade", lembrou Cíntia.

A presidente conta que há anos vive engajada na luta pela pedofilia, mas há dois anos, a convite da coordenadora do movimento em Búzios, decidiu trazer o movimento para Casimiro de Abreu.

"Atualmente, trabalhamos com palestras, fóruns de enfrentamento e debates. Mas, além de conscientizar a sociedade também fazemos o acolhimento de vítimas, através do acompanhamento as delegacias especializadas e aos conselhos tutelares municipais para que as denúncias sejam efetuadas e a integridade da criança seja mantida Trabalhamos o ano inteiro com mobilização e medidas para que o poder público não se cale e promova medidas que assegurem as nossas crianças o direito a proteção", destacou a presidente do movimento.

O projeto também atua pelas redes sociais, através de uma página criada no facebook. "Temos uma pagina que foi criada em 2015 no Facebook onde está a disposição da sociedade para falar do tema abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes ,nessa página recebemos muitas denúncias da sociedade. "Estamos aqui para passar para a sociedade, que aquela criança, aquele adolescente não está sozinho. Que uma hora, o crime virá à tona", finalizou.

Semana para pensar no Combate ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

Há 48 anos, uma estudante de oito anos de idade foi para a escola e não voltou para casa. Seu corpo foi encontrado seis dias depois e os criminosos ficaram impunes. A morte da menina Araceli Crespo, no Espírito Santo, inspirou o 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração sexual de Crianças e Adolescentes. Aprovada em 2000, a Lei 9.970, que instituiu o dia 18 de maio como "Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças Adolescentes", visa reunir diversas entidades governamentais, não governamentais e representantes da sociedade civil na promoção de ações de conscientização e enfrentamento à violência, além de formulação de políticas públicas.

A história de Araceli marcou, mas infelizmente, não é a única conforme o relatório dos Direitos Humanos, publicado em 2019, a cada 159 mil registros feitos pelo Disque 100, cerca de 86,8 mil estão relacionados a violações de direitos de crianças ou adolescentes, a violência sexual figura em 11% das denúncias, o que corresponde a 17 mil ocorrências somente em 2019.

Dados do Instituto Liberta levantados a partir de estudos de organizações da sociedade civil e dados governamentais, apontam que o Brasil ocupa o 2º lugar no ranking de exploração sexual infantojuvenil, e apenas 10% dos casos são notificados às autoridades. Estima-se que por ano, ocorra mais de 500 mil casos de violação no Brasil, nessa perspectiva iniciativas como o Maio Laranja contribuem para o enfrentamento à violência e ampliam o debate acerca do tema.


Fonte: RJNEWSnoticias

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