A Sociedade Musical Lyra dos Conspiradores iniciou as comemorações do seu aniversário de 141 anos, no sábado (16), com feijoada em prol da instituição. Em 21 de janeiro, a festa vai continuar com o grito pré-carnavalesco da bateria 'Amigos do Samba' e componentes da Banda da Lyra. Também Netinho Carvalho e Banda irão animar a celebração beneficente.
O prefeito Welberth Rezende, durante o evento, disse que no início do próximo ano se reunirá com as diretorias das sociedades musicais Lyra dos Conspiradores e Nova Aurora, para traçar estratégias de apoio às bandas musicais centenárias da cidade.
"A Lyra dos Conspiradores e a Nova Aurora são duas instituições de grande importância histórica, cultural e social da cidade, por isso precisam ser preservadas e apoiadas. É um orgulho para o cidadão macaense contar com elas, que resistem por tantos anos e têm muito ainda a oferecer à cidade", frisou o prefeito em encontro com os membros da diretoria e do conselho fiscal da Lyra, representado pelo produtor cultural da associação sem fins lucrativos, Usina de Fomento Cultural, Marcos Outeiro (Kuika).
As comemorações do aniversário da Lyra dos Conspiradores (25 de dezembro de 1882) foram abertas por missa, na manhã de sábado (16), na capela no interior da sede, localizada na Rua do Sacramento, 63, no Centro da cidade, cuja padroeira é Nossa Senhora da Penha, intercessora dos peregrinos e perseguidos. A missa foi celebrada por Padre Mauro Nunes (Paróquia São João Batista, Centro) e Padre Marcelo Talon (Paróquia São Paulo Apóstolo, Aroeira).
Padre Mauro, na abertura da cerimônia, destacou a Lyra dos Conspiradores como símbolo de resistência pela igualdade racial na sociedade macaense. Em sua homilia, padre Marcelo Talon também enfatizou este aspecto. "Este aqui é um espaço de resistência profética e que não se pode esquecer. Temos que fazer memória de todos que por aqui passaram e deram seu sangue, sua vida e seu suor, para que não esqueçamos o objetivo da Lyra dos Conspiradores. Muitas questões do passado ainda continuam em nossa volta e é preciso uma tomada de consciência", disse padre Marcelo.
"A Lyra dos Conspiradores faz da música um instrumento de comunhão entre as pessoas. O estandarte da Lyra continua representando todo o valor que esta história tem, riqueza e orgulho para a cidade", enfatizou a secretária da Sociedade Musical, Ivania Ribeiro. O atual presidente é Leandro Márcio de Andrade Costa e o tesoureiro é Isnard Drummond.
A professora aposentada Oriorlanda Couto Murteira, 88 anos de idade, é filha e viúva de benfeitores da Lyra dos Conspiradores. Ela se emocionou com as lembranças de quando, desde os 5 anos de idade, coroava Nossa Senhora, subindo o altar da capela, durante festejos religiosos, e ainda de quando tocava o antigo órgão da comunidade. A galeria de quadros de benfeitores da instituição também trouxe muito boas lembranças a ela. "Não consigo falar desta grande emoção".
No estatuto da Lyra dos Conspiradores há uma cláusula considerada afrontosa na época, pois permitia a adesão de sócios sem distinção de sexo, religião, credo político e cor. Entre os anos 1883 e 1888, a Lyra lutou contra a escravatura, usando a banda como força aglutinadora de massa, cedendo suas dependências para reuniões abolicionistas. Neste período, a economia da região era baseada na produção agrícola pelo trabalho de negros escravizados.
Na ala lateral do prédio da Lyra já funcionaram importantes instituições macaenses, como o Instituto Nossa Senhora da Glória. Na sede, foram acolhidos diversos movimentos sociais da cidade. Uma das características da Lyra Conspiradores é o seu caráter popular e eclético. Muitos de seus presidentes foram médicos, engenheiros, jornalistas, advogados, professores, ferroviários e músicos.
Palco da história regional
De acordo com pesquisa do historiador Doutor Meynardo Rocha e da professora Ivania Ribeiro, a Sociedade Musical Lyra dos Conspiradores, fundada em 25 de dezembro de 1882, nascia da dissidência de membros da Sociedade Musical Nova Aurora (fundada em 8 de junho de 1873), numa época em que os debates políticos em torno do movimento abolicionista e do possível advento de uma república no país repercutiram em todos os âmbitos e instituições sociais.
De acordo com estes pesquisadores, a competição acirrada que se estabeleceu entre as duas sociedades musicais acabou contribuindo para o engrandecimento cultural da cidade, tornando-se uma das causas da longevidade de ambas. Um dos acontecimentos mais marcantes na sede da Lyra dos Conspiradores ocorreu em 31 de julho de 1887, quando ela recebeu a visita da Lyra Conspiradora de Campos dos Goytacazes e do tribuno abolicionista Carlos Lacerda. Houve um grande conflito no pátio da instituição, porque os conservadores escravocratas locais não aceitaram a conferência por liberdade em Macaé.
Atualmente, a Lyra dos Conspiradores e a Nova Aurora celebram juntas seus aniversários e continuam sendo referências culturais no município, no Estado do Rio de Janeiro e no país.
