O triste cenário dos deslizamentos

As frequentes e repetidas anunciadas tragédias

Por Luiz Paulo em 28/02/2023 às 07:28:02

Imagem da Barra do Sahy, região mais atingida pelos temporais no Litoral Norte de São Paulo - Imagem: Metrópoles

Olá, pessoa! É muito bom estar por aqui novamente. Espero que esse tempo longe tenha sido para vocês também como um amigo especial que muitas vezes ficamos sem ver mas quando encontramos é como se tivéssemos conversado ontem.

Temos bastante coisa para por em dia, hein? Assunto é o que não falta. Aqui na coluna vamos falar sobre tudo o que é relacionado a arquitetura e urbanismo, dicas e orientações que vão desde a escolha de um terreno até o acabamento. Também vou trazer informações sobre eventos e assuntos ligados às cidades.

Gostaria apenas de pautar coisas boas, mas existem temas importantes e situações latentes que não podemos simplesmente deixar para trás. Hoje eu vou tratar um pouco sobre a questão das chuvas que assolaram o litoral norte de São Paulo. Infelizmente é um assunto muito recorrente, e é recorrente por que a solução para os problemas está longe de ser uma realidade.

Há pelo menos 50 anos, conforme dados do IBGE, a população urbana do Brasil passou a ser maior nas cidades do que nos campos, o crescimento rápido e desordenado, aliado a poucas políticas públicas que realmente vão no âmago da questão e as grandes mudanças climáticas experimentadas nos últimos anos tem formado os principais ingredientes para que tragédias anunciadas se repitam. Como sabemos, infelizmente a corda arrebenta para o ado mais fraco.

Tendo como pano de fundo as cidades de Ubatuba, Caraguatatuba, Ilha Bela e São Sebastião, cidades do litoral norte de São Paulo, podemos ver as semelhanças com Petrópolis (2022), e com mais de cem cidades baianas no final do ano passado. A nível nacional, não são apenas as enchentes que têm dado as caras no Brasil, no Rio Grande do Sul a seca tem sido constante nos últimos três anos. Esses são apenas alguns dos tantos eventos extremos.

Que caminhos precisamos percorrer para resolver essas questões? Já temos as respostas, precisamos de ações.

Precisamos ver que as mudanças climáticas já são uma realidade, isso ocasiona mudanças drásticas na atmosfera, no regime de chuvas, secas, furacões. O Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas emitiu relatório elaborado por 234 cientistas de 66 países que destaca que em 2019 as concentrações atmosféricas de CO2 foram maiores do que em qualquer momento nos últimos 2 mil anos. O documento mostra que as emissões de gases do efeito estufa são responsáveis por aproximadamente 1,1ºC do aquecimento entre 1850-1900 e constata que, em média, a temperatura global deverá atingir ou exceder 1,5º de aquecimento. Os cientistas do IPCC alertam que o aquecimento global de 2ºC será excedido durante o século 21.

São tantos os ingredientes que impactam nos fazem duvidar se vamos conseguir diminuir a emissão de gases do efeito estufa. Transportes, indústria, agropecuária, energia, construção civil, esses e outros tantos setores têm sua parcela de culpa e muito do que sobrepor interesses financeiros de setores consolidados para então pensarmos que estamos caminhando na direção certa. Infelizmente estamos pagando para ver. Eventos como do litoral paulista onde em 24 horas choveu 682 milímetros – o que poderia ser esperado para 2 meses está longe de ser chuva de verão senão evento climático extremo.

Outra questão importante, independentemente da questão climática passa pela questão das habitações no Brasil. Durante muito tempo e por diversas esferas de governos temos visto parcos esforços para tratar a questão, quando não muito negligenciado por total. Olhando para a região serrana do Rio, onde em 2011 foram registradas 918 mortes, pouco se fez. De acordo com a Agência O Globo, até 2022 as prefeituras tinham usado apenas metade do valor disponibilizados para mitigar os problemas. Após o trágico cenário de 2011 o governo do Estado apontou construir 7.235 domicílios nas regiões afetadas, até 2022 foram entregues 4.219. Levando em consideração apenas Petrópolis, um estudo feito pela Prefeitura apontou em 2017 que o município tinha 234 locais considerado como risco alto ou muito alto para deslizamentos, enchentes e inundações e que nessas regiões havia mais de 20 mil moradias e era recomendado o reassentamento o reassentamento de 7.177 famílias, ou seja, o que foi feito em termos de moradia não atenderia sequer a cidade de Petrópolis.



?Cenário do caos em 2011 - Chuvas fortes, moradias precárias em lugares inadequados para construir, a combinação perfeita das tragédias que se repetem. Foto: Mariano Azevedo/Governo do RJ - reprodução.

Todas as esferas de governo, mas não apenas devem somar esforços contínuos para que da dificuldade surja a oportunidade. O Brasil como poucos países tem a faca e o queijo na mão tanto na questão climática, tanto a questão habitacional e infraestrutura. São questões importantes, suprapartidárias e que não podem ser abandonadas a cada vez que muda o governo. Devemos encarar de forma definitiva as questões habitacionais, provavelmente as grandes empresas, construtoras deverão dar uma fatia maior do bolo – hoje a melhor parte fica para quem pode pagar, relegando a lugares ermos, inundáveis e com riscos de desmoronamentos a quem mal consegue construir sua casa. Não podemos mais enxugar gelo.

Deixo aqui meus sentimentos a todas às famílias que perderam seus entes e amigos nestas tragédias. Espero que de fato sejam colocadas rapidamente em prática ações que evitem essas catástrofes.

Oportunamente eu vou pautar a respeito da ONG Nós da Cidade! aqui em Macaé, que tem por base ações de urbanismo tático e arquitetura social, acredito que pode ser uma chance de mitigar alguns dos problemas locais.

Se você tiver a chance, não deixe de ajudar às pessoas que estão na luta no litoral norte de São Paulo – os dados abaixo foram obtidos através do site do Governo do Estado de São Paulo, caso você vá fazer uma doação através de outro meio, certifique-se primeiramente das informações.

Para doar cestas básicas:

Conta Bancária
Banco do Brasil
Agência nº 1897-X
Conta corrente nº 19.490-5
CNPJ/MF nº 44.111.698-0001/98


Para doar cobertores:

Conta Bancária
Banco do Brasil
Agência nº 1897-X
Conta corrente nº 19.771-8
CNPJ/MF nº 44.111.698-0001/98

Chave Pix:
[email protected]

Até breve!

Tem alguma dúvida ou sugestão? Entre em contato pelo e-mail: [email protected] ou mande mensagem para o WhatsApp (22) 9 9714-3227

Luís Paulo Klein Guimarães

Arquiteto e Urbanista

Pós-graduando em Cidades e suas Tecnologias




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