Diretor do Nupem afirma que corte comprometerá pesquisas essesnciais ao município de Macaé

O contingenciamento poderá levar a suspensão de serviços de vigilância patrimonial

Por Redação em 15/05/2021 às 07:18:52

O contingenciamento poderá levar a suspensão de serviços de vigilância patrimonial, limpeza das salas de aula, laboratório, recursos para combustíveis e manutenção da frota

O Diretor do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (NUPEM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rodrigo Nunes da Fonseca, afirmou ao RJ News, que o corte orçamentário, além de inviabilizar o ensino público de qualidade, vai prejudicar a continuidade de pesquisas essenciais à comunidade. Ainda segundo o diretor do Nupem, haverá comprometimento de pesquisas essenciais para a manutenção das unidades de conservação do município.

Rodrigo Nunes conta que o Instituto Nupem de Biodiversidade e Sustentabilidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi surpreendido com mais um corte significativo no orçamento da instituição. "O contingenciamento poderá levar à suspensão de serviços de vigilância patrimonial, limpeza de salas de aula, laboratório, recursos para combustíveis e manutenção da frota", explicou. Ainda de acordo com Rodrigo Nunes, além do corte nos serviços básicos de manutenção, o racionamento afetará projetos de pesquisa, ações de extensão, a efetividade dos cursos de graduação e de pós-graduação, o que certamente, comprometerá a educação pública de qualidade. "O comprometimento das verbas afetará também a prestação de serviços à comunidade, como a atuação do Nupem frente à pandemia da Covid-19, na descoberta de novas linhagens do vírus Sars-Cov2 em Macaé, no desenvolvimento de novos métodos de diagnóstico e no mapeamento georreferenciado de casos", ressaltou.

Para o professor do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade Nupem, da Universidade Federal do Rio de Janeiro que atua também na área de Desenvolvimento Socioambiental e Ecologia Evolutiva, Rodrigo Lemes, toda crise causada pelo coronavírus e a dificuldade do governo federal em reconhecer a importância da pesquisa, promover a vacinação e atuar pela retomada da economia, impacta também às empresas que possuem parcerias com a universidade. "Estamos tendo, perdas de contratos de parcerias de desenvolvimento cientifico e tecnológico, gigantescas. Eu tenho três projetos com a Vale, que cortou 20% dos projetos. Isso significa que a reitoria, pega de cada projeto, de 2 a 5%. Só um dos projetos que eu gerencio, por exemplo, está no valor hoje de R$ 7 milhões. Com um corte de 20%, aumenta ainda mais a dificuldade de retomada ou de manutenção da instituição", explicou.

Abaixo-assinado contra o corte no orçamento da UFRJ

Em um vídeo, o Secretário Geral da Associação de Pós-Graduandos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Igor Alves Pinto, que também é Doutorando do Curso de Direito e Professor Substituto da UFRJ, fez um pedido a todos para participarem das atividades da instituição e do abaixo-assinado, além das ações que, segundo ele, têm sido realizadas para tentar manter a universidade viva. Pela internet, o abaixo-assinado pode ser acessado pelo link: https://www.change.org/p/minist%C3%A9rio-da-educa%C3%A7%C3%A3o-em-defesa-do-or%C3%A7amento-da-ufrj. Segundo Igor Alves, neste período de pandemia em que a UFRJ é uma referência no combate ao vírus, referência no cuidado com o social, há duas vacinas contra a Covid-19 em fases de testes pré-clínicos. "São vacinas brasileiras, feitas com o financiamento público, com investimento em pesquisa, e dentro de todo este contexto, em que a universidade se manifesta e faz esforço para tentar evitar os males que a pandemia tem causado neste momento, nós estamos sofrendo com o corte do governo", ressaltou. Ainda segundo ele, no dia 29 de abril, o governo bloqueou R$ 41 milhões do orçamento da universidade. Um orçamento que, de acordo com Igor Alves, desde 2012 vem caindo. "Um orçamento que era de R$ 773 milhões e passou para o último orçamento aprovado, neste ano, para R$ 299 milhões. Este valor não vem ao todo para a universidade, vem em partes. Então, só R$ 146 milhões, menos da metade, foram liberados à UFRJ. Nós estamos esperando ainda que R$ 152 milhões, mais da metade, sejam aprovados pelo Congresso Nacional, que nem sequer começou a deliberar sobre o tema. Não há prazo, não há nada para liberar o restante desta verba. Dentro destes R$ 152 milhões, como já comentei, foram bloqueados R$ 41 milhões. Nós estamos em uma expectativa de receber apenas R$ 111 milhões deste orçamento, o que nos levaria para um orçamento menor do que em 2008, quando a universidade tinha 20 mil alunos a menos. Estamos em uma situação em que foi aprovado um orçamento de R$ 380 milhões, sabendo que era um orçamento necessário para sobreviver. Num momento seguinte, esse orçamento caiu para R$ 299 milhões e hoje nós estamos lutando para talvez, quem sabe, chegar num orçamento que dê a faixa dos R$ 250 milhões, por conta dos cortes do governo. Nós não temos previsão para esse debate no Congresso Nacional e sem essa verba, a universidade não vai continuar existindo. Nós não temos dinheiro para pagar nossos técnicos terceirizados, para pagar luz, água e para continuar investindo na pesquisa, que hoje é uma das coisas que garante a nossa sobrevivência frente ao coronavírus. Nós pedimos a ajuda de vocês, com esse abaixo-assinado, com as outras ações que a gente está colocando no meio do caminho, com atos e manifestações para ajudar a manter a universidade viva. Hoje, ter pesquisa é também ter a garantia das nossas próprias vidas no combate à pandemia", concluiu.

Anúncio do corte do orçamento da URFJ repercute entre alunos de Macaé

Pelas redes sociais, alunos da UFRJ Macaé se manifestaram contra o anúncio do corte no orçamento da universidade. O estudante de farmácia da UFRJ Macaé, Lucas Schwenck publicou, em uma página, que em 2017, aos 17 anos de idade, entrava na universidade de Macaé, cheio de anseios e sonhos, um dos primeiros da família a entrar para uma universidade federal. "Assim como outros amigos, passei grande parte da minha vida no campus, realizando pesquisa, na área de possíveis antibacterianos e antifúngicos, o que me proporcionou minha primeira palestra, extensão universitária, ensinando sobre moléculas a alunos do ensino médio e até um convite de participar de um programa de mestrado. Hoje, percebo o desmonte da pesquisa brasileira e, acima de tudo, da soberania nacional. É evidente a dependência brasileira de terceiros na produção de insumos farmacêuticos, justificável pelo desinteresse governamental, em investir em ciências e tecnologia. Estão inviabilizando o funcionamento de uma das maiores universidades da América Latina, excelência em pesquisa e produção científica. As perguntas que ficam são: a quem isso interessa? Vão ser eternamente dependentes de terceiros?", destacou no post.

Também aluna do Curso de Farmácia da UFRJ Macaé, em suas redes sociais, Steffany Calixto, se manifestou, dizendo que a universidade a proporcionou os melhores momentos da sua vida e ainda a concedeu oportunidades que jamais pensou que teria. "Adquiri amor pela docência, me tornei monitora, pesquisadora, divulgadora científica, conheci pessoas maravilhosas, professores que se tornaram amigos, orientadores excelentes que nunca me deixaram desistir, participei de eventos e me desenvolvi como pessoa e profissional. Meu eu de 17 anos, quando fui caloura, nunca pensei que chegaria tão longe. Eu defendo o ensino público. Eu defendo a UFRJ", postou a aluna.

A história do Nupem em Macaé

No início da década de 1980, o professor Francisco de Assis Esteves, então docente da Universidade Federal de São Carlos, iniciou juntamente com seus estagiários, as pesquisas pioneiras sobre a Ecologia das Lagoas Costeiras de Macaé e região. A região passava por um período de profundas transformações sócio-econômicas, impulsionadas principalmente pela exploração do petróleo. As pesquisas realizadas pelo professor Francisco Esteves e sua equipe resultaram nas primeiras publicações sobre estes ecossistemas de grande peculiaridade ecológica. No entanto, as condições para a realização das pesquisas, na época, eram de grande precariedade e os pesquisadores passavam vários dias acampados às margens das lagoas sob sol ou chuva, sem o mínimo de conforto e sem mínimas condições operacionais. As dificuldades logísticas, aliadas à iminente deterioração ambiental da região devido ao acelerado crescimento populacional, segredaram um sonho: o de criar em Macaé um centro de pesquisa, que possibilitasse a acomodação de pesquisadores e a realização de estudos ecológicos nas lagoas costeiras da região para assim fornecer bases para o manejo e conservação da sua biodiversidade. Assim, surgiu o sonho de criar o Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé (NUPEM/UFRJ), hoje chamado Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (NUPEM/UFRJ). Com sua transferência para o Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1989, o professor Francisco de Assis Esteves tomou como uma de suas primeiras atribuições, a construção de parcerias como meio indispensável para a realização do sonho de criar o NUPEM/UFRJ.

Com a criação do NUPEM/UFRJ, novos pesquisadores, com inovadores projetos de pesquisa, passaram a fazer parte de sua equipe e grandes avanços ao conhecimento da biodiversidade, de processos ecológicos e de teorias ecológicas sobre as lagoas e as restingas do Norte Fluminense, puderam ser realizados. Entre estes pesquisadores, destacam-se os Professores Reinaldo Luiz Bozelli, Fábio Rubio Scarano e Déia Maria Ferreira, da UFRJ, que desenvolveram grande número de pesquisas inéditas no país, formaram grande número de discípulos e tiveram significativa contribuição para a formação da consciência ambiental da população de Macaé e Região. A participação destes cientistas e de tantos outros do Brasil e do exterior, possibilitou que as restingas e as lagoas do Norte Fluminense se transformassem nos ecossistemas mais conhecidos cientificamente do Brasil. Com o avanço das pesquisas, ficou claro para os pesquisadores do NUPEM, a necessidade imperiosa de se preservar um dos poucos trechos do litoral brasileiro de grande extensão, que ainda estava intacto ecologicamente: a Restinga de Jurubatiba. Tomada a consciência da necessidade de preservação, os pesquisadores, liderados pelo professor Francisco de Assis Esteves, lançaram-se à luta para transformar a Restinga de Jurubatiba em uma Unidade de Conservação. Assim, o NUPEM liderou um intenso movimento social, que se iniciou em 1995, a partir de Macaé, e que com o tempo passou a contar com o apoio de outros municípios, instituições e pesquisadores do Brasil e do exterior, culminando com a criação, em abril de 1998, do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. Para a realização do sonho de construir em Macaé um centro de excelência em pesquisa e ensino na área ambiental, o NUPEM tem contado com a parceria de alunos e de professores do Ensino Fundamental e Médio de Macaé e Região, que têm participado dos cursos de atualização em Ciências e de Educação ambiental ministrados periodicamente em suas instalações.

Os excelentes resultados obtidos e a forte interação com a sociedade Norte Fluminense, foram fatores fundamentais para consolidação da parceria entre o NUPEM/UFRJ, a Prefeitura Municipal de Macaé e a Petrobras. Um indicador desta parceria, foi a doação de um terreno e a construção de uma nova sede pela Prefeitura Municipal de Macaé. Com a nova sede, inaugurada em 10 de Março de 2006, dotada de vários laboratórios, auditório, salas de aula e demais infraestrutura, foi possível ampliar as linhas de pesquisa e a missão sócioambiental do NUPEM/UFRJ. Fato de grande relevância para o NUPEM/UFRJ foi a sua institucionalização pelo Conselho Universitário da UFRJ, como uma Unidade do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ, em julho de 2006, até então o NUPEM/UFRJ era uma extensão do Laboratório de Limnologia do Instituto de Biologia/UFRJ, e a contratação de seus 15 primeiros pesquisadores em tempo integral, para dedicarem-se exclusivamente às atividades de pesquisas, ensino e extensão em Macaé. Com a efetivação de seus primeiros pesquisadores-professores, foi possível criar o Curso de Ciências Biológicas, que é ministrado em parceria com o Instituto de Biologia/UFRJ. Assim, a partir de um pequeno laboratório, instalado na varanda de uma barraca de acampamento, está sendo possível criar, em Macaé, um centro de excelência em pesquisa nas áreas biológicas e ambiental, que em poucos anos de existência já se tornou um modelo de integração pesquisa-ensino-sociedade e o embrião do campus da UFRJ em Macaé. No contexto de um Campus da UFRJ, o NUPEM/UFRJ torna-se ainda mais eficaz na concepção e na realização de novos sonhos de significativa parcela da população do Estado. Para que o NUPEM/UFRJ alcançasse o elevado patamar de respeitabilidade junto à sociedade científica e brasileira, alguns valores estiveram sempre presentes nos cientistas que estiveram à frente da realização deste sonho. Entre estes valores, destacam-se o amor à ciência, o arrojado espírito de luta por seus ideais e o forte senso de ética e de cidadania. Norteado por estes valores, o NUPEM/UFRJ continuará contribuindo para a construção de uma sociedade com mais justiça social e preservação ambiental no Norte Fluminense.

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