Luto na educação de Macaé: em apenas um dia, cinco profissionais morrem com complicações da Covid-19

As mortes foram registradas um dia após a prefeitura anunciar a reabertura das unidades para atendimento

Por RJNEWS NOTÍCIAS em 11/05/2021 às 09:55:47
Ilustrativa

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Em apenas um dia, Macaé perdeu cinco profissionais da educação para o coronavírus. A notícia foi divulgada pelo Sindicato dos Profissionais da Educação - Sepe Macaé, por meio das redes sociais, no último dia 04.

Logo no início do dia, a instituição já havia comunicado o falecimento por Covid-19, de Maria Fátima Alves, que trabalhava no setor de protocolo da Secretaria de Educação. No decorrer do dia, uma segunda nota foi publicada dedicada a outros quatro profissionais da educação. As vítimas foram Daniel Ernesto Silva de Souza e Mara Beatriz Schurgelies Kishi, que estavam lotados na FeMASS, a professora Marivalda Rodrigues, do Colégio Renato Martins e Joana D&39;Arc Ramos Matias, supervisora lotada na escola Jacyra Tavarez Duval, que teve complicações pós-covid.

Antes desse dia de luto múltiplo, a categoria já havia registrado a perda de outros servidores, totalizando pelo menos dez profissionais da área. De acordo com o presidente do sindicato, esse cenário agregado à atual situação da pandemia, tem resultado e causa diversos transtornos á categoria.

"Continuamos na bandeira vermelha, estamos com muitos casos de contaminação em Macaé. Nossos profissionais estão abalados emocionalmente, estão com medo, pois estamos vendo pessoas próximas serem contaminadas. Com isso, também estamos vendo muitos casos de ansiedade, depressão, dentre outros problemas que afetam o psicológico. Enquanto isso, a prefeitura insiste em cobrar a reabertura das escolas e expor os profissionais ao vírus", criticou o presidente do sindicato, Wesley Carvalho.

Os profissionais estão indignados, pois a notícia das mortes chegou um dia após a Prefeitura de Macaé anunciar a reabertura das escolas às terças e quintas-feiras, das 8h às 17h, com o intuito de atender à comunidade escolar no que se refere às questões específicas da Bolsa Alimentação, bem como na entrega de apostilas impressas para o Ensino Fundamental e o cronograma de vivências e/ou kit pedagógico para a Educação Infantil.

A decisão já havia sido criticada pelo sindicato, devido ao fato, da cidade permanecer na bandeira vermelha. "A Secretaria Municipal de Educação de Macaé está convocando os profissionais da educação para a entrega de materiais, mesmo com a cidade na fase vermelha da pandemia. A secretaria informa que isso precisa ser feito, independente da fase do covidímetro. Com isso, a secretária Eliane Araújo, através de mensagem de whatsapp, está contrariando ofício que ela própria escreveu há poucos dias atrás, onde se previa escolas fechadas na faixa vermelha. Esta é uma atitude lamentável por parte da secretaria de educação do município, que desrespeita os procedimentos sanitários estabelecidos e não ajuda a preservar a saúde dos servidores e das famílias dos educandos", informa a nota publicada pelo sindicato.

A categoria finalizou afirmando que escolas fechadas é igual a vidas preservadas. "Será que para sensibilizar a secretária Eliane, não bastariam os falecimentos que tivemos dentro da própria secretaria de educação? Se a secretária tivesse maior contato com a categoria, saberia da angústia que causa essa decisão desnecessária. O país atingiu essa semana a marca de 400.000 óbitos por Covid-19, desde o início da pandemia, e parece que ainda não aprendemos nada com essa triste lição. Escolas fechadas, vidas preservadas", concluiu.

Além disso, segundo diretores de algumas unidades escolares, que preferiram não ter sua identidade revelada, a procura pelas unidades escolares é baixíssima, não havendo necessidade real de fazer o profissional sair de casa, neste momento tão delicado.

"Os atendimentos à comunidade escolar não atingem a 15% que da totalidade. Basicamente se resume à necessidade de atividades impressas para os alunos sem conectividade para acessar as plataformas digitais. Todos nós da educação compreendemos que é importante a impressão das atividades para os alunos sem conexão à internet, mas temos que pensar, que estamos na bandeira vermelha. Se a bandeira reduzir, nós estaremos disponíveis para atuar, normalmente. Mas, neste momento, não temos como concordar com essa decisão", relatou um diretor.

Ainda de acordo com a categoria, também em nota divulgada pela Diretoria Colegiada do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação de Macaé, não está sendo possível garantir um diálogo com a secretária de educação. O órgão teria desmarcado uma reunião agendada para a última segunda-feira, 03, sem abertura para uma nova conversa.

"Essa atitude, desequilibrada da secretária de educação municipal, causou surpresa na direção sindical, até porque não apresentou motivação plausível, revelando sua vertente autoritária, ao não confrontação ao contraditório, de limitação de seu pensamento educacional e imaturidade para a função, perpetuando, desta forma, práticas do que se tornou rotina na educação municipal, um feudo, um poço de arrogância e autossuficiente, que quando combinados, produz o caos, obviamente, com o auxílio da associação de fakenews e a cooptação de burocratas, uma verdadeira normalização , de quem reside em outro planeta, sem conexão com a realidade e amparado em um modelo decadente, onde a principal cadeira da educação municipal, torna-se, moeda de troca, para um projeto que representa os interesses mais fúteis e mercenários de seu mentor. O SEPE-Macaé propõem ansiosamente, mudanças bruscas na ordem de prioridades na educação municipal, no intuito de concentrar esforços, na garantia à vida da comunidade escolar, ao estabelecimento de um projeto racional, viável e de ações concretas, como o tempo que vivemos exige, aplicando os investimentos significativos para nossos alunos e que tenhamos o restabelecimento do diálogo", ressaltou o sindicato.

O sindicato informou ainda que a categoria está sob aviso de greve e afirmou que paralisará as atividades, caso seja determinado o retorno das aulas presenciais em Macaé.

Falta de transparência sobre os casos de coronavírus no setor público
Segundo informações obtidas pela nossa equipe, não são só os profissionais da educação, que estão sendo atingidos pelo vírus. Na Câmara Municipal de Macaé, pelo menos 100 servidores já tiveram a doença.
" Aqui tiveram muitos, considerando que nosso efetivo fixo é um pouco mais de 100 servidores, acho que a porcentagem foi bem alta, mas eles estão abafando. Como sabemos, nossas instituições públicas, estão absolutamente corrompidas, a grande maioria dos políticos só pensam em enriquecer ilicitamente e tirar o máximo de vantagens dos cargos públicos. Não tem como superfaturar insumos como material de escritório, papel higiênico, material de limpeza, por exemplo, se ninguém estiver usando esses insumos. Se pensarmos com a lógica, veremos que todos têm condições de exercerem suas funções de forma remota", frisou um servidor.
A mesma situação também foi apresentada por servidores dos setores do executivo. Não existe uma estatística para avaliar o quadro e traçar medidas de prevenção, de acordo com a demanda.

Na sessão do último dia 04, o vereador Rafael Amorim (PDT) aprovou um requerimento para que os testes realizados pela Prefeitura de Macaé fossem enviados para o Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade UFRJ Macaé (Nupem), com o intuito de que seja possível avaliar com maior precisão os dados e tomar medidas mais concretas para reduzir os dados de contaminação.

Nossa equipe entrou em contato com a Prefeitura de Macaé, que confirmou que não existe nenhum levantamento específicos e os dados são contabilizados de maneira generalizada. "Todos os dados referentes a óbitos e casos infectados registrados pela Prefeitura de Macaé seguem os critérios definidos pelo Ministério da Saúde e as orientações da Secretaria Estadual de Saúde, que levam em consideração as informações indicadas pelos pacientes no Cartão do SUS, divulgadas através dos sistemas Covidímetro e Vacina Macaé, seguindo os princípios da legalidade e de transparência. O procedimento de casos suspeitos é o mesmo a todos os pacientes atendidos pela rede de assistência aos pacientes da COVID-19: orientação dos protocolos sanitários, observação sobre sintomas e períodos, e isolamento social (em caso de confirmação)", informou através de nota.

Sobre o retorno das atividades, o município informou que o decreto 098/2021 foi editado e estabelece as regras do sistema homeoffice, mantendo facultativo a decisão do servidor acima de 60 anos retornar às atividades laborais após o estágio completo de vacinação contra a COVID-19 (1ª e 2ª dose + período de 30 dias). Os profissionais da saúde, que já cumpriram o esquema de vacinação, deverão retornar ao trabalho.

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