Debatedores propõem treinar profissionais para identificar violĂȘncia contra crianças

A ideia Ă© aumentar a rede de monitoramento e favorecer denĂșncias de casos suspeitos

Por RJNEWS em 01/06/2021 às 06:17:07
Marco Antônio Gama, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria

Marco Antônio Gama, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria

Debatedores sugeriram nesta segunda-feira (31), em audiĂȘncia promovida pela Comissão de Seguridade Social e FamĂ­lia da Câmara dos Deputados, um esforço social conjunto para frear a alta consistente dos casos de violĂȘncia doméstica contra crianças e adolescentes no Brasil.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), apenas no ano de 2019 foram notificadas, em média, 243 agressões por dia no Brasil contra o pĂșblico com idades entre 0 e 19 anos, somando 88.572 notificações. Dessas, 62.537 envolveram violĂȘncia fĂ­sica; 23.969, violĂȘncia psicológica ou moral; e 2.342, tortura.

Além de oferecer novos caminhos para denĂșncias, segundo os participantes, é preciso capacitar mais profissionais das ĂĄreas de educação, saĂșde, assistĂȘncia social e segurança pĂșblica para identificar o problema a partir de sinais não tão evidentes.

Presidente da SBP, Marco Antônio Gama propôs que os médicos investiguem com mais atenção traumas e sinais comportamentais manifestados por crianças e jovens. "O médico tem que pensar em um diagnóstico diferencial para vĂĄrias patologias que podem estar disfarçadas. A criança caiu do muro? Nada, ela sofreu uma agressão, disse." Para Gama, quanto mais conhecimento técnico-cientifico o médico tiver, mais chances a criança terĂĄ de ser protegida e mais subsĂ­dios a Justiça terĂĄ para processar o agressor.

Casos de agressão
O deputado Dr. Zacharias Calil (DEM-GO), que é cirurgião pediĂĄtrico e que propôs o debate, lembrou os casos de Henry Borel, Isabella Nardoni e Bernardo Boldrini, mortos em decorrĂȘncia de violĂȘncia doméstica.

"Fiquei muito deprimido ao ver o sofrimento de uma criança indefesa evoluir para o óbito", disse Calil, referindo-se ao caso do menino Henry, que jĂĄ chegou morto a um hospital do Rio de Janeiro com sinais de agressão fĂ­sica. "Precisamos chamar atenção para os sinais de alerta que as crianças apresentam. As crianças se comunicam com a gente muitas vezes apenas com o olhar", reforçou Calil.

Presidente da Associação Brasileira de Cirurgia Pediatria, a médica Maria do Socorro de Campos lembrou que, entre 2010 e 2019, mais de 103 mil crianças e adolescentes com até 19 anos morreram no Brasil, vĂ­timas de agressão.

Como em 90% dos casos os agressores são os próprios pais da vĂ­tima, ela considera fundamental orientar profissionais de diversas ĂĄreas para que sigam os protocolos recomendados, como saber ouvir, não fazer perguntas em demasia e evitar que a vĂ­tima se sinta culpada.

"É importante ainda orientar a vĂ­tima sobre todos os procedimentos a serem adotados, como o tipo de exame a ser realizado; não prometer que o fato vai ficar entre ela e o profissional, porque pode ser necessĂĄrio fazer uma denĂșncia; e garantir a singularidade do atendimento, levando em conta cada tipo de situação", observou.

Pandemia
De 2010 a 2019, os nĂșmeros mostram alta de 294,3% nos casos violĂȘncia fĂ­sica, de 222,4% nos casos de violĂȘncia psicológica e de 180% nos casos de tortura. Porém, o secretĂĄrio Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério da Mulher, da FamĂ­lia e dos Direitos Humanos, MaurĂ­cio Cunha, reconheceu que, durante a pandemia, com o fechamento de muitas escolas, os casos de violĂȘncia contra crianças e adolescentes podem estar subnotificados.

"Quando se considera que a violĂȘncia se dĂĄ no âmbito doméstico e é praticada por pessoas de confiança, certamente houve aumento de casos durante a pandemia. Apensar disso, as notificações diminuĂ­ram, porque a criança estĂĄ com menos contato com professores e médicos, que são quem fazem a maior parte das denĂșncias", disse Cunha.

Canais de denĂșncia
Ele explicou que, em 2020, dos 76.981 casos registrados envolvendo o pĂșblico infanto-juvenil, apenas 4.402 foram realizados pela própria vĂ­tima.

Como novo meio de denĂșncia, além do Disque 100 (Disque Direitos Humanos) e do Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher), ele informou que o governo trabalha no aplicativo SABE, para que as próprias crianças possam fazer denĂșncias.

Entre outras ações, citou a inauguração do primeiro Centro de Atendimento Integrado, em Vitória da Conquista (BA), em atendimento à Lei da Escuta Protegida, que exige condições especĂ­ficas para o atendimento de vĂ­timas de violĂȘncia sexual. A ideia, segundo ele, é que a criança tenha acesso a todos os serviços necessĂĄrios em um só local.

Impunidade
Francisco Cembranelli, promotor pĂșblico do Estado de São Paulo que atuou no caso Isabella Nardoni, disse que não basta criminalizar condutas e prever penas rigorosas para os agressores. "O que impede a conduta é o criminoso ter a certeza de serĂĄ punido. Hoje, somente 10% são denunciados e acabam sendo alvo de processo. Em mais de 90% dos casos, temos a impunidade absoluta no Brasil. Ao não ser alcançado, ele volta a delinquir, a espancar a mulher e a bater no filho", disse Cembranelli, cuja tese levou à prisão de Alexandre Nardoni e Anna Carolina JatobĂĄ, respectivamente pai e madrasta de Isabella, espancada e atirada pela janela do sexto andar de um prédio em São Paulo.

Os estados com mais ocorrĂȘncias de violĂȘncia contra menores no perĂ­odo são: São Paulo (138.460), Minas Gerais (96.287), ParanĂĄ (54.884), Rio de Janeiro (49.827) e Rio Grande do Sul (42.791).

Fonte: AgĂȘncia Câmara

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