O papel de Macaé na crise climática

Impactos e custos locais

Por Jorge Aziz em 12/11/2024 às 17:38:43

A crise climática global coloca a humanidade diante de um dos maiores desafios do século: a necessidade de conciliar o crescimento econômico e o desenvolvimento social com a preservação ambiental e a redução de emissões de gases de efeito estufa. Com o avanço das mudanças climáticas, assistimos à intensificação de eventos extremos — como secas, tempestades e ondas de calor — que impactam diretamente a vida das populações, pressionando governos, organizações internacionais e a sociedade civil a buscar soluções rápidas e efetivas.

Nesse contexto, cidades industriais, como Macaé, assumem um papel estratégico e controverso. A cidade, conhecida como "capital do petróleo", destaca-se pelo papel fundamental que exerce no suprimento energético nacional, especialmente através da exploração de combustíveis fósseis na Bacia de Campos e da produção de energia termelétrica.

No entanto, essa posição privilegiada traz consigo uma série de desafios e dilemas: como mitigar os impactos ambientais da exploração de petróleo e gás, e das emissões significativas associadas à sua geração de energia, ao mesmo tempo em que se busca atender à crescente demanda energética do país? O impacto das atividades energéticas em Macaé vai além das emissões de gases de efeito estufa. Há também o aumento de custos para a infraestrutura local, os desafios para a saúde pública, devido à poluição do ar e da água, e as pressões sobre o custo de vida de sua população.

Como equilibrar, então, os interesses econômicos da exploração de energia com os custos sociais e ambientais que recaem sobre a cidade e seus habitantes? Esse é um questionamento essencial para a construção de uma política de sustentabilidade que considere não apenas a urgência climática, mas também o bem-estar e a qualidade de vida da população local.

O Inventário Nacional de Emissões de Gases de Efeito Estufa-GEE, realizado em 2020, publicado em 2021, especifica as contribuições setoriais por Estados da Federação do Brasil das atividades que contribuem para emissão de GEE, publicado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

No Estado do Rio de Janeiro, o setor de produção de energia é responsável por 35% das emissões de GEE dos setores econômicos. As emissões do Rio de Janeiro representaram 6% das emissões nacionais e 24% da região Sudeste, em 2016.

Macaé é o polo Industrial que mais contribui para esse volume de emissões no Estado do Rio de Janeiro. A UTE Mário Lago (Complexo Termelétrico Norte Fluminense): A maior termelétrica da região, com capacidade instalada de aproximadamente 1.300 MW. Ela opera com gás natural, sendo uma das principais fornecedoras de energia para o Sudeste; UTE Marlim Azul: Com uma capacidade de cerca de 565 MW, essa usina foi projetada para utilizar gás natural extraído da Bacia de Campos, uma das regiões petrolíferas mais importantes do Brasil e UTE Vale Azul: Com capacidade de aproximadamente 466 MW, também é alimentada por gás natural e faz parte do portfólio de termelétricas do município. Somando essas unidades, Macaé possui uma capacidade instalada de geração térmica de aproximadamente 2.331 MW.

Agora, quanto isso representa de emissão de Gases de Efeito Estufa-GEE2 (Emissão de CO2) As usinas termelétricas a gás natural emitem aproximadamente 0,4 toneladas de CO2 por MWh de eletricidade gerada. Com essa taxa de emissão, temos uma estimativa aproximada de emissões de CO2 para a capacidade total: 2.331 MW x 0,4 toneladas de CO2/MWh ? 932,4 toneladas de CO2 por hora de operação. Essa é uma estimativa geral, pois as emissões reais podem variar com a eficiência de cada usina e o nível de utilização da capacidade instalada. Além disso, as usinas em Macaé operam de acordo com a demanda e contratos com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), de modo que a quantidade real de CO2 emitida varia ao longo do tempo.

A Bacia de Campos, onde se localiza Macaé, é uma das mais produtivas do Brasil, responsável por uma parcela significativa da produção nacional de petróleo e gás natural. Ela responde por cerca de 20% a 25% da produção de petróleo e gás do Brasil, uma fração que tem variado conforme novos campos são descobertos em outras áreas do país (como o pré-sal na Bacia de Santos). De acordo com dados recentes da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP):Petróleo: A produção média diária na Bacia de Campos gira em torno de 500 mil barris por dia (bpd). Gás Natural: A produção diária de gás natural é de aproximadamente 16 milhões de metros cúbicos por dia (m³/dia).

Embora a produção ocorra na Bacia de Campos, a cidade de Macaé é o principal centro logístico e de apoio às operações offshore na região. O município sedia as bases de operação e muitas das infraestruturas de suporte, como empresas de serviços, portos, e terminais de embarque de pessoal e suprimentos. Estima-se que aproximadamente 70% a 80% das operações logísticas e de apoio às plataformas da Bacia de Campos estejam concentradas em Macaé. Isso faz com que o município tenha grande importância estratégica na produção de petróleo e gás da região, embora a produção propriamente dita ocorra no mar.

A extração de petróleo e gás gera emissões de CO2 devido principalmente: ao consumo de energia pelas plataformas para operar os equipamentos e processar o petróleo e gás e a queima de gás natural em processos de flare (quando parte do gás é queimada por não ser aproveitada economicamente). Para uma estimativa de CO2, a indústria de petróleo offshore emite, em média, cerca de 50 a 100 kg de CO2 por barril de petróleo extraído, variando conforme o tipo de plataforma e a eficiência energética. Portanto, para uma produção de 500 mil barris por dia, as emissões diárias de CO2 seriam aproximadamente 25.000 a 50.000 toneladas de CO2. Daí, se conclui que a produção média diária da Bacia de Campos está em torno de 500 mil barris de petróleo e 16 milhões de m³ de gás natural. A fração logística e de apoio operacional em Macaé é estimada entre 70% a 80% da atividade na região, logo, as emissões de CO2 da extração na Bacia de Campos são estimadas entre 25.000 a 50.000 toneladas de CO2 por dia.

Essa produção e suas emissões são fundamentais para compreender o impacto ambiental e econômico da indústria de petróleo e gás em Macaé, assim como a importância de iniciativas de mitigação ambiental e eficiência energética na região.

Essas informações apontam que o progresso de nossa região, caminha no sentido contrário da política energética mundial. Quando no mundo a transição energética apontam para uma redução das fontes de combustíveis fósseis, e adoção de fontes de energia renováveis, como eólica e solar, aqui estamos ampliando a capacidade de produção e emissões de GEE. Até que ponto podemos dizer que estamos progredindo? Não seria ora de investir na transição energética?

Segundo o painel de cientistas (Observatório Climático Europeu Copérnico), para termos a chance de manter o aquecimento global sob o teto de 1,5°C, as emissões globais em 2035 teriam que ser 60% menores que as realizadas em 2019. Como as emissões brasileiras em 2019 foram de 1,7 GtCO2e, o teto das emissões brasileiras para 2035 seria de 680 MtCO2e.

Por onde se iniciará esses cortes de emissões de GEE no Brasil, pois segundo projeções da estatal Empresa de Pesquisa Energética-EPE, a participação das hidrelétricas na matriz elétrica brasileira cairá de 56% para 47% em 10 anos. Boa parte dessa queda tem a ver com a forte expansão esperada para as fontes eólica e solar, mas a EPE também prevê que a produção elétrica a gás fóssil quadruplicará nesse período, com as térmicas a combustíveis fósseis passando de 2,9% para 6,4% da matriz, segundo Data Folha.

Essa semana foi anunciado na grande imprensa, que a alta da inflação de outubro, foi puxada pelo setor de energia, sobretudo pela inserção das termoelétricas no suprimento do sistema nacional. A contas de luz em outubro foi a grande vilã da inflação do mês, que surpreendeu e ficou acima do projetado por analistas. O custo extra foi estabelecido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) para cobrir os gastos com a operação de termelétricas a gás fóssil, usinas que produzem uma eletricidade bem mais cara que a de plantas renováveis, como eólica e solar. E bem mais suja, devido às emissões com a queima do combustível fóssil. (infoclima.org)

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o aumento diário da temperatura média, que desde 2022 vem apresentando os verões mais quentes da Terra, teria efeitos significativos sobre a população com maior morbidade e baixa renda, elevando riscos de saúde e impactando o bem-estar. Esse aumento de temperatura intensifica as ondas de calor, que são diretamente associadas a um maior risco de doenças cardiovasculares, respiratórias e complicações metabólicas, especialmente entre pessoas já vulneráveis, como idosos, crianças e aqueles com condições crônicas de saúde.

Agora pergunto, estamos preparados para o enfrentamento dessas adversidades socioambientais? Como podemos contribuir com a produção de energia e a transição energética? O que estamos fazendo para equilibrar a importância econômica da indústria do petrolífera com práticas sustentáveis, explorando possíveis alternativas de economia circular, energia renovável e tecnologia de captura de carbono, que poderiam mitigar alguns impactos e gerar novas oportunidades econômicas?

Fonte: Citada no texto

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