O Feliz Natal de Dona Cotinha

Por Gi Germano em 25/12/2024 às 11:23:43

Dona Cotinha estava se preparando...

Logo estaria pronta para desfilar com seu vestido de "florzinhas" coloridas!

Os sapatos limpos com saltos adequados para sua idade já estavam perto da porta, porque andar pela casa de calçados não era muito saudável.

Nos cabelos ainda estavam seus "bobes", também conhecidos como rolinhos, certamente seus cachinhos estariam bem bonitos e seu penteado de rotina ficaria firme.

O dia estava ensolarado, mas não impediu a Dona Cotinha de colher do seu jardim lindas flores para colocar no vaso que levaria para colocar no centro de mesa e enfeitaria aquele momento encantador!.

Por falar nisso, observou que o relógio marcava a hora exata em que o assado estaria pronto, Dona Cotinha foi até a cozinha, desligou o forno, o caldinho que restava no fundo da forma iria manter o assado úmido até o momento de degustá-lo.

O tempo passou rápido, mas Dona Cotinha conseguiu ler as palavras do texto do livro que estava lendo, pegou seu marcador de páginas feito de crochê e colocou com cuidado para lembrar a página que ela parou...

Hora de se arrumar...

Dona Cotinha muito vaidosa, tomou seu banho, colocou seu perfume floral, seus brincos de perolas, passou seu pó no rosto e não esqueceu o seu batom. Agora era a hora de ajeitar os cabelos, o penteado ficou perfeito...

Foi até a cozinha, enrolou de forma cuidadosa o seu assado, escolheu a toalha mais bonita de seu armário, era branca, alva como as nuvens e na barra de crochê os pontos que ela tinha aprendido ainda menina com sua avó.

Tudo pronto!

Olhou em volta, tudo desligado, janelas fechadas, hora de sair, seu sorriso acentuava sua beleza, olhos brilhantes, cabelos prateados, nas mãos enrugadas, unhas pintadas e em uma das mãos duas alianças, uma era dela e a outra... Bem, a outra seria de seu marido, se ele não tivesse resolvido seguir viagem...

Por um breve momento, Dona Cotinha, lembrou dele, e da missão que eles realizavam juntos, mas agora ela seguia fazendo sozinha, o sorriso retornou ao seu rosto, o que ele diria ao vê-la assim tão linda?!

Dona Cotinha fechou a porta e saiu segurando sua bolsa com muito cuidado.

Não iria precisar condução porque o evento era na praça em frente á sua casa, lugar muito especial para todos da cidade, ponto de encontro dos amigos, início de alguns namoros, cenário para os recém-casados que saiam da pequena capelinha, depois de falar o seu sim diante da comunidade que tinha sempre algo a contar dos noivos. Nesta praça também brincavam as crianças enquanto suas mães ou avós conversavam... Dona Cotinha lembrou de seus momentos como mãe, não tinha netos...

Pelo caminho, Dona Cotinha cumprimentava a todos, e seu sorriso aumentou, quando chegou próximo do coreto, uma enorme mesa já estava coberta de alimentos, bebidas, pratos, copos e talheres, tudo feito com tanto carinho!

Os convidados começaram a chegar, Dona Cotinha conhecia a todos pelos nomes, ela sempre estava com eles, conversando, ouvindo suas histórias sentadinha no banco da praça, às sextas-feiras logo após o almoço. Essa proximidade atraia os olhares de quem passava, afinal o que aquelas pessoas que moravam pelas ruas e dormiam nas calçadas em pedaços de papelão tinham para falar?

Chamava também atenção a ternura do olhar de Dona Cotinha quando estava com eles, ficava atenta a cada palavra.

Dona Cotinha e seus amigos organizaram aquele evento, era o almoço de Natal das pessoas que moravam pelas ruas, embaixo das pontes, lugares abandonados e até em alguns pontos da praça.

O grupo de Dona Cotinha foi contagiado por um sentimento que ela já conhecia muito bem, desde a época em que ela e seu falecido marido saia com seus filhos para praticar algo que todos conheciam por compaixão!

Antes da distribuição dos alimentos, Dona Cotinha como sempre falava de uma história conhecida por todos, o nascimento de uma criança que renova a esperança e traz consigo o melhor de todos os presentes... O amor!

Agora sim, a fila foi formada hora de distribuir o almoço, e enquanto isso acontecia, cada um que recebia o prato ainda vazio, dizia a quem iria colocar o alimento palavras simples, mas com grande significado... Feliz Natal!

Essas palavras ditas por aquelas pessoas tinham um valor especial, muitas pessoas que tem de tudo e buscam por mais e mais, não tiveram tempo pra ter proximidade, ternura ou compaixão por aqueles que no dia a dia que não tem onde dormir, comer ou simplesmente realizar sua higiene, porque isso não é vendido em "shoppings"!

Como costuma dizer...Qualquer semelhança.... É pura coincidência!

Feliz e abençoado Natal!

Fonte: Texto criado por Gi Germano

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