Chance em ser "Caiman latirostris"

Eu poderia começar com Era uma vez...ou certo dia...

Resolvi iniciar contando de forma simples e objetiva o impacto que tive ao receber a notícia que tinha chegado o dia de ser vacinada, ainda em estado de choque precisei respirar fundo para acreditar quem em questão de horas, eu estaria recebendo a primeira dose da vacina que por tantos meses pedi a Deus para que todos pudessem receber as dosagens...

Um filme passou na cabeça e muitos pensamentos presentes. Quantos se foram e não tiveram esta oportunidade, quantos lares passando por uma dor por falta de uma "simples picada"?

Irresponsabilidade!!!

Dormir não foi fácil, o dia amanheceu e as sensações aumentavam, não saberia descrever e nem ilustrar!

Documentos separados e várias vezes sendo conferidos, não poderia faltar nada! Logo em seguida, o figurino... Que roupa vestir? Nada que atrapalhe! Assim, escolhi pela camisa de tricô vermelho burdô, calça jeans, sapatos confortáveis, máscara de corujinha (identificação dos professores), bolsa com os documentos, garrafinha com álcool líquido... E...

Percebi que faltava algo, ainda dava tempo, precisava levar um símbolo para representar força e até mesmo resistência fosse emocional, mental e físico. Procurei pela casa pelo fantoche... Não encontrei!

Lembrei!

Estava dentro da caixa na minha sala de aula! Não teria como buscar...

O jeito seria criar um dedoche! Não seria um dedoche qualquer...

O tempo estava passando, precisava fazer a escolha...

Tive certeza na escolha, uma espécie que poderia ser vista em minha própria região, seria mais autêntico, ouvi falar que no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, tem o Caiman latirostris!

Pronto, já escolhi, farei um dedoche de um jacaré-do-papo-amarelo ou melhor, um jacaré-fêmea!

Eu poderia fazer um aligátor caso eu estivesse nos Estados Unidos ou fosse para lá receber a vacina, mas optei por uma espécie encontrada aqui no Brasil! Um crocodilo não seria original, pois, não lembro de ter ouvido falar que esta espécie exista em algum território brasileiro.

Pensei no Jacaré-do-pantanal, em seguida Jacaré-açu, Jacaré-anão, Jacaré-coroa, por fim, a escolha foi um jacaré fêmea-do-papo-amarelo!

Uma pena que a espécie faz parte da lista de animais em extinção do IBAMA, devido a destruição do seu habitat e poluição!

Ou seria por falta da vacina?

Não sei dizer...

Será que o jacaré representa o mistério? Renascimento?

Eu penso no jacaré como espécie de força e com grande importância onde habita, como nós seres humanos, cada qual contribuindo com o seu papel!

Voltando ao momento da vacinação...

Bem, o local estava tranquilo, as pessoas orientando a todos que chegavam, não havia demora, diria que o lugar estava agradável, se não fosse o real motivo em estar lá, isso me fez novamente viajar nos pensamentos...

À medida que chegava a minha vez fui tomada por uma emoção, respirei fundo e tentei controlar a lágrima que desejava cair, e eu preocupada em ter que explicar se alguém percebesse que naquele momento eu sentia alegria e tristeza em receber a primeira dose,

Veio novamente no pensamento as pessoas que se foram...

Não tiveram a oportunidade...

Não tiveram a chance!

O sentimento agora era de raiva...

O pensamento parou ao ouvir: -"Próximo"!

Respirei fundo, pois, chegou a minha vez!

Com cuidado e de forma discreta peguei o meu dedoche, o riso de quem aplicaria a vacina me fez lembrar que era preciso registrar o momento, enquanto uma mão segura o dedoche a outra equilibrava o celular, tudo tão rápido...

Uma simples picada...

E muitos não tiveram essa chance!