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O Negacionismo como Último Refúgio Antes do Colapso

Ainda dá tempo?

Por Jorge Aziz em 12/02/2025 às 13:49:04

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A civilização contemporânea não está preparada para o fim. Aliás, nunca esteve. Diante da iminência de uma tragédia climática global, acentuada por conflitos geopolíticos cada vez mais violentos, a resposta da humanidade não é a ação, mas a negação.

David Wallace-Wells, em A Terra Inabitável, descreve como a sociedade contemporânea, mesmo diante de provas irrefutáveis da degradação ambiental, continua apostando na ilusão de que o amanhã será como hoje, como se o princípio antrópico—essa ideia de que o universo parece desenhado para a vida humana—fosse uma garantia eterna. Mas não é. Se há uma regra no cosmos, é a da mudança, e estamos testemunhando uma mutação sem precedentes no ambiente que nos permitiu florescer.

No entanto, em vez de enfrentarmos essa realidade, vemos a sociedade cada vez mais imersa em narrativas de escapismo. Há os que negam a ciência, enxergando teorias da conspiração em cada relatório climático. Há os que se rendem ao cinismo absoluto, acreditando que nada pode ser feito. E há ainda aqueles que, como em um ritual de autoconforto, depositam todas as esperanças em soluções tecnológicas milagrosas—geoengenharia, captura de carbono, colonização de Marte—como se pudéssemos simplesmente nos livrar do planeta e seguir adiante.

John Gray, em Missa Negra, nos alerta para um fenômeno ainda mais profundo: o fim das utopias e o que ele chama de pós-apocalipse. Para ele, a civilização ocidental foi construída sob promessas de redenção—seja religiosa, seja política ou tecnológica. Mas quando o apocalipse climático se torna inevitável, percebemos que não há mais grandes narrativas de salvação. Só nos resta o desespero ou a aceitação fria do colapso.

O negacionismo, portanto, não é apenas uma recusa irracional aos fatos, mas um mecanismo de defesa. Como admitir que estamos testemunhando o esgotamento do mundo tal como o conhecemos? Que a crise climática não é apenas um problema ambiental, mas um gatilho para guerras, migrações em massa, colapsos econômicos? O que vemos agora—desde as inundações recordes no Brasil até a intensificação dos conflitos no Oriente Médio e na Europa Oriental—é apenas o começo de um processo muito maior e irreversível.

No fundo, a distopia já chegou, mas a sociedade contemporânea a vê como um espetáculo, não como realidade. O aquecimento global e suas consequências são convertidos em manchetes sensacionalistas, mas sem impacto prático. A violência e o caos são temas de filmes e séries, enquanto na vida real continuamos acreditando que tudo se resolverá por si só.

O problema é que a realidade não se curva ao desejo humano. E quando finalmente admitirmos que não há saída fácil, talvez seja tarde demais para qualquer reação.

Referências:

• Wallace-Wells, D. (2019). A Terra Inabitável: Uma História do Futuro.

• Gray, J. (2007). Missa Negra: Religião Apocalíptica e o Fim das Utopias.

Fonte: Citada no texto

Corretora
Zion