Mapa mundi - arquivo Pinterest.com
Um Suposto Planeta Terra – A Aula
— Lá vem o professor! — sussurrou um dos alunos, enquanto observava a figura familiar se aproximar pelo corredor.
Como sempre, trazia consigo um mapa enrolado e um globo terrestre. Mas naquela noite, o que se repetia trazia também o inesperado.
— Boa noite! — saudou o professor ao cruzar a porta, sendo prontamente respondido pela turma.
Antes que pudesse colocar o material sobre a mesa, uma aluna se adiantou:
— Posso ajudá-lo, professor?
Ele assentiu, e a jovem pegou o mapa e o globo, posicionando-os para o início da aula. O globo foi colocado sobre a mesa. O mapa, aberto e pendurado na lousa.
Um burburinho tomou a sala.
— Olha! — exclamou um aluno. — Ela colocou o mundo de cabeça para baixo!
A aluna arregalou os olhos.
— Eu conserto! — disse, apressando-se para corrigir o que julgava um erro.
Mas o professor a interrompeu com um gesto suave.
— Pode deixar assim. Não será problema.
Os alunos se entreolharam, desconfiados. O que ele queria dessa vez?
A classe se acomodou, esperando a próxima instrução.
— Quero que formem grupos de até cinco pessoas — anunciou o professor. — Cada grupo deve discutir e escrever o que vê. Não há resposta errada. Apenas observem e descrevam a cena diante de vocês.
Ele foi até a lousa e estabeleceu as regras da atividade:
1. Um apontador descreveria o que cada membro do grupo dizia.
2. Um relator reuniria as opiniões e destacaria as divergências.
3. Ao final, cada grupo chegaria a uma conclusão.
— Têm vinte minutos. Comecem.
O barulho das conversas logo preencheu a sala. Os grupos se organizaram, e os apontadores se apressaram em anotar as percepções dos colegas. Alguns apontavam para o mapa, franzindo a testa. Outros gesticulavam com convicção.
Quando o tempo se esgotou, os relatores foram chamados para apresentar suas ideias.
O professor ouviu atentamente, sem interromper. As narrativas eram surpreendentes:
— O mundo está virado!
— O mundo está errado!
— O mundo está de cabeça para baixo!
— O mundo está torto!
— O mundo não é assim!
Ele sorriu, satisfeito. A oportunidade perfeita para o próximo passo havia se apresentado.
— Muito bem! Agora, quero propor um novo exercício.
A turma ficou em silêncio, à espera do desafio.
— Imaginem que, fora daqui, na rua, na feira, em casa ou na igreja, vocês ouvissem alguém dizer essas mesmas frases. "O mundo está virado." "O mundo está errado." "O mundo está de cabeça para baixo." O que vocês imaginariam que essa pessoa estava querendo dizer?
Os alunos se entreolharam. O professor prosseguiu:
— Quero que respondam individualmente, em uma folha em branco. Escrevam suas impressões e assinem. Não há resposta certa ou errada. Apenas quero saber como vocês interpretariam essas frases em outro contexto.
As canetas começaram a riscar o papel. Os rostos refletiam um misto de curiosidade e reflexão.
O professor observava em silêncio. Ali, naquelas palavras escritas às pressas, residia o verdadeiro aprendizado: a descoberta de que a forma como enxergamos o mundo não é fixa, mas sim um reflexo de nossas experiências, valores e histórias.
Quando todos terminaram, ele recolheu os relatos.
— Lerei cada um com atenção. E, na próxima aula, debatemos juntos.
Ele fechou a pasta com os textos dos alunos e olhou para o mapa ainda pendurado na lousa. De cabeça para baixo, ou talvez, apenas sob uma nova perspectiva.
A aula seguia. O mundo continuava a ser refeito.