A regulamentação do mercado global de crédito de carbono é frequentemente promovida como um mecanismo essencial para financiar a transição energética e enfrentar a crise climática. Esse modelo baseia-se na criação de um mercado onde empresas e governos podem comprar e vender créditos de carbono, representando emissões evitadas, reduzidas ou sequestradas. Contudo, análises críticas de economistas como Michael Hudson e outros especialistas oferecem uma visão mais cética sobre a eficácia e a justiça dessa abordagem.
O quê o mercado de crédito de carbono pretende?
Incentivar a redução de emissões ao monetizar créditos de carbono, que podem ser vendidos por empresas ou projetos que mitigam emissões (e.g., reflorestamento, energias renováveis);
Financiar projetos de transição energética nos países em desenvolvimento, promovendo a equidade climática; e
Estabelecer padrões globais para a contabilidade de emissões e evitar "dupla contagem" de créditos.
Apesar do potencial teórico, críticos argumentam que a estrutura atual do mercado está longe de resolver os problemas sistêmicos que sustentam a crise climática.
Pontos críticos:
1. Financeirização e Rentismo;
Michael Hudson, argumenta que o mercado de carbono promove a financeirização da crise climática, transformando as emissões de carbono em um ativo especulativo. Esse processo beneficia principalmente instituições financeiras e investidores, enquanto desvia recursos e atenção de ações concretas para reduzir emissões na fonte. Ele observa que o mercado cria uma lógica onde os poluidores mais ricos podem "comprar" permissão para continuar emitindo, o que perpetua desigualdades econômicas e ambientais.
Para Hudson, esse modelo reflete o "rentismo climático", no qual o lucro é extraído de externalidades ambientais, enquanto as causas estruturais da crise (dependência de combustíveis fósseis e modelos econômicos de crescimento infinito) permanecem intactas .
2. Falsa Solução (Larry Lohmann
Críticos como Larry Lohmann, apontam que o mercado de carbono frequentemente oferece soluções que são mais simbólicas do que reais. Muitos créditos de carbono resultam de projetos com impactos limitados, como plantações de monoculturas que desconsideram as comunidades locais e ecossistemas nativos. Além disso, há dúvidas sobre a "adicionalidade" — ou seja, se os projetos financiados realmente evitariam emissões que não ocorreriam de outra forma.
3. Justiça Climática e Impacto no Sul Global
O mercado global de carbono tende a reproduzir desigualdades entre o Norte Global e o Sul Global. Países em desenvolvimento frequentemente assumem a responsabilidade de gerar créditos baratos para os maiores poluidores globais. Isso pode levar à apropriação de terras e recursos nos países menos desenvolvidos, ao invés de garantir uma transição energética justa.
4. Falta de Regulação e Transparência
A falta de padrões globais claros para medir e verificar os créditos de carbono gera problemas de credibilidade no mercado. Escândalos relacionados a créditos inválidos ou inflacionados minam a confiança no sistema e questionam sua eficácia como ferramenta climática.
Quais seriam as propostas alternativas?
Taxação Direta de Emissões:
Michael Hudson e outros economistas sugerem que uma taxação progressiva sobre emissões seria mais eficaz para reduzir o consumo de combustíveis fósseis e financiar a transição energética. Essa abordagem evita a criação de mercados financeiros especulativos.
Investimentos Públicos em Infraestrutura Verde: Hudson defende o papel do estado em liderar a transição por meio de investimentos diretos em energia renovável, transporte público e eficiência energética.
.Regulação Estrita-
Proibir ou limitar certas práticas poluidoras diretamente, em vez de "compensá-las" por meio de créditos, poderia ser mais eficaz para reduzir emissões.
Embora o mercado global de crédito de carbono tenha o potencial de financiar a transição energética, suas limitações estruturais e seus riscos associados à financeirização levantam sérias questões sobre sua eficácia e justiça. Perspectivas críticas como as de Hudson destacam a necessidade de soluções mais diretas e robustas, que enfrentem as causas sistêmicas da crise climática e priorizem a justiça social e ambiental. Para que o mercado de carbono funcione como uma ferramenta de transição legítima, ele precisará de reformas profundas que garantam transparência, eficácia e equidade.
Fonte: Finance Capitalismo and Its descontents, Michael Hudson; Larry Lohmann, A Critical Conservation on C