A propósito de Margaret Atwood

"It"s not Climate Change, It"s Everything Change," de Margaret Atwood, é uma reflexão incisiva e provocativa que transcende a ideia de alterações climáticas como um evento isolado, projetando o fenômeno como um catalisador para mudanças sistêmicas globais. Atwood, com sua habitual eloquência, usa a retórica para nos alertar que as transformações climáticas não apenas mexem com a temperatura do planeta, mas com todas as dimensões de nossas vidas — econômica, social, política e cultural.

A Retórica da Interconexão

Atwood constrói sua argumentação sobre o princípio da interconexão. Ela apresenta o clima como uma rede complexa que toca todas as esferas da existência humana. Sua escolha do termo "Everything Change" não é acidental; trata-se de uma figura de linguagem que ilustra a totalidade do impacto. O argumento central da autora é que, ao tratarmos o problema como exclusivamente ambiental, falhamos em compreender a extensão de sua gravidade.

A retórica de Atwood é profundamente persuasiva ao empregar exemplos concretos e acessíveis. Ela relaciona mudanças climáticas a eventos cotidianos como alimentação, economia doméstica e saúde pública, desafiando o leitor a enxergar o problema de forma prática e próxima. É uma estratégia eficaz, pois torna impossível para o público ignorar o impacto em suas próprias vidas.

Ironia e Alarmismo Calculado

Um dos traços mais marcantes do texto é a ironia mordaz de Atwood. Em passagens como as que discutem o negacionismo climático ou a lentidão dos governos em adotar medidas significativas, a autora usa o sarcasmo para enfatizar a gravidade do momento. Em vez de alarmismo vazio, Atwood oferece um "alarmismo calculado", uma retórica deliberadamente inquietante que mobiliza a urgência da ação.

Por exemplo, ao comparar a situação climática com uma "casa em chamas enquanto as pessoas continuam a redecorar," Atwood não apenas critica a apatia social, mas também oferece uma metáfora poderosa que comunica a absurda desconexão entre a emergência global e as respostas humanas.

Retórica Narrativa e Apelo à Imaginação

Outro elemento-chave é o uso de narrativas que apelam à imaginação do leitor. Atwood transporta o público para cenários futuros, alguns distópicos, mas plausíveis. Esses cenários fazem uso de um imaginário vívido que lembra sua ficção, mas agora com base científica e política. Ela transforma dados abstratos sobre aquecimento global em histórias tangíveis, onde as consequências são impossíveis de ignorar.

Ao mesmo tempo, há um apelo sutil à esperança. Atwood não se limita a pintar um retrato sombrio; ela também sugere soluções e práticas que podem reverter algumas das tendências destrutivas. Este contraste entre o desastre iminente e as possibilidades de ação dá ao texto uma qualidade retórica dinâmica e engajante.

Conclusão

Margaret Atwood, com sua habilidade literária e aguda percepção crítica, transforma "It"s not Climate Change, It"s Everything Change" em uma poderosa crônica que vai além do ativismo climático. Sua retórica não apenas informa, mas também desafia, provoca e inspira ação. O texto é um lembrete de que as mudanças climáticas não são apenas sobre o planeta — são sobre todos nós, em todos os aspectos de nossas vidas.

Assim, Atwood não apenas alerta para o que está por vir, mas nos convoca a agir como participantes ativos da solução. A força de sua retórica reside exatamente nisso: na capacidade de conectar ciência, emoção e imaginação em um discurso que não pode ser ignorado.